por Alice Silva
A humanidade, com freqüência, usufrui de alguns feriados durante o ano em comemorações quer sejam culturais, cívicas, religiosas e outras que tais. Obviamente, elas são bem-vindas por toda a gente do planeta. Entretanto, são diversas as formas de aproveitamento e gozo destes dias pelos sábios e frágeis homens desta época. Uns tem necessidade de descansar, para desgosto da família que não entende a turbulência da vida urbana, as derrapadas, batidas do trânsito, o patrão que torra e muito mais... Seu inconsciente insiste em repeti-las durante o sono para se acostumar com esta melodia que significa as benesses da vida cotidiana. Os outros, enquanto isso, caem na gandaia para esquecer, no barulho da farra, o barulho da tecnologia moderna dotada de campainhas, assobios, uivos, apitos, que deixam os infelizes completamente zuretas.
Neste sucinto prolegômeno, supra, aspirei examinar só uma parte do assunto em pauta, ainda muito pouco satisfatório. Trata-se de sujeitos oriundos da ralé - maior parte do todo do hemisfério - que trabalham durante o dia com o suor de seu traseiro, que sem cessar, esfrega-se nas cadeiras auto-móveis e outros métodos virtuais-escravagistas. Eis que senão quando termina o calvário. O fim do castigo tem sua recompensa. Ah, o bendito trem ou ônibus de cada dia – nos daí hoje - e o estribo refrigerado, que Deus dá, que Deus dá, olará...!
Mas, no entanto, todavia, contudo, como tudo, tem o lado bom dos feriados, para suprir nossa necessidade básica de lazer e descanso. Aí nos locupletamos a festejar todos os deuses e heróis que herdamos, de Hércules a Tiririca, já que ainda não aprendemos a andar sozinhos. Foi um presente que o maldito passado nos legou sem petição, documentos, nem prova em contrário. Todavia, dizem os mais inconformados e críticos papo-cabeça, que a grande obra que fizeram ontem, está fora da validade, hoje. Ora, ora, direis ouvir estrelas.
Mas ainda há salvação; para tudo há um jeitinho. Não é um sarro curtir um anjinho?
Então nasce o Menino, o Nazareno, filho de pai desconhecido, que de saída tem a enorme tarefa de salvar a humanidade arrasada pela civilização greco- romana. Embora, hoje, não tenhamos nada a ver com isso, Ele ficou adulto e andou fazendo estrepolias por terras de Jerusalém e adjacências. Pregou o amor e a paz. Levou o povo a enfrentar os malditos, até hoje poderosos. Seus adeptos “andaram cegos pelos continentes erguendo estranhas catedrais” e ‘um dia afinal,’ após uma grande trégua, ‘tinham direito a alegria geral’. Decidiram que o Seu aniversário, cuja data se desconhece, devia ser, para sempre festejado, enquanto a salvação não chegasse
Só no Natal, sem armas, os contemporâneos ainda tentam seguir as palavras do Mestre, mas há controvérsias. Em expedições etílicas e gastronômicas, depois de muitas maratonas pelo comércio das cidades, à noite desse dia é comemorada em todas as casas dos cristãos ricos, ou quase pobres, quando proprietários e convivas se vestem com trajes e jóias de alto custo “à la mode, comme Il faut,.” No entorno da mesa, os castiçais iluminam o sagrado, onde sentam-se os notáveis e seus familiares, com gestos e trejeitos naturais à casta. Comedidos comem, pouco para revelar sua classe, acompanha vinhos de ótima safra que é abundantemente servido. Animados com a bebida começam a manifestar sua verve, por isso, entusiastas, bebem desenvolvendo e demonstrando sua porção circense.
O final da festa é só ver para crer, se não foi barrado na porta.
Feliz Natal!