sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

poemas de elisabeth

Saudade, sim

Tendência linguageira mera
faz-me enveredar no tempo
priscas eras
quando amor era amor
desprezo, desprezo
fogueira, fogueira
os olhos choram
chora a cara
de núpcias com a saudade
preciso, sim, tornar hígidos os músculos da alma
para perpassar, sem queimados
nem resguardos,
o quarteirão do tempo
que me joga lá,
lá na casa branca do Bairro,
extasiada face à fogueira de São João
e logo vê-la transformar-se,
apagar-se até se tornar
amásia da geada e, juntas,
amplexo de paixão,
cortarem noite gelada
esqueleto frio, a fogueira,
na noite encardida de estrelas
arredias

Elisabeth maio /2007

ADEUS AO PORTO

Antes, só pensamentos me seguiam nas jornadas.
Misteriosamente, agora,
escuto um arrastar de ruas e ruelas
rondando meus fazeres,
imensas escadarias me seguem em pegadas silenciosas.
Ouço passos no encalço
que me gritam adeuses.
Quando busco vê-los,
são bandeiras coloridas
acenando de sacadas e janelas.
Comove-me tremular delas.
Se lhes grito “ vos amo”
Minha voz se confunde com os ecos
de mil becos: “vus amo”, “vus amo”, v’s amo”.
Ficou-me na lembrança tanto encanto,
as roupas penduradas, tão singelas,
as bicas d’água, o cais,
as igrejas eternas,
e essa ventura que eu sorvia,
dia a dia,
eu, que não sabia nada dela.

Elisabeth / Portugal, 11.04.91

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